A importância da agenda ESG para a cadeia de produção do agronegócio

Setor que mais cresce no país convive com a pressão de investidores e consumidores pela adequação da produção a um modelo mais sustentável, demandando investimentos em projetos de modernização e adequação da produção rural e industrial.

Imagine o seguinte cenário: um país que é líder mundial na produção de commodities agropecuárias – como soja, café, açúcar e carne – que tem no agronegócio mais de 25% do Produto Interno Bruto (PIB), 40% das exportações, e deve, até 2030, produzir 20% a mais, demandando 40% mais energia e 50% mais água para suprir uma expansão de 35% na produção de alimentos.

Mas considere também que este mesmo país está entre os cinco maiores emissores de gases de efeito estufa, sendo 28% das emissões na agropecuária e 44% pela conversão do solo, quase exclusivamente por desmatamento. Sabendo que os aspectos climáticos são decisivos na cadeia de produção do agronegócio – que depende da chuva, de temperaturas amenas e outros fatores para produzir – esses dados deixam mais fácil a compreensão do porquê o Brasil está no centro das atenções mundiais no que diz respeito à agenda ESG.

Um dos setores que mais crescem no país – dependendo, consequentemente, de maiores investimentos – o agronegócio brasileiro convive com a pressão de investidores e consumidores pela adequação da produção a um modelo mais sustentável, demandando investimentos em projetos de modernização e adequação da produção rural e industrial.

O que é ESG

A sigla ESG vem do inglês – Environment, Social and Governance – e se refere a uma agenda que prioriza ações de responsabilidade ambiental, social e de governança por parte das grandes empresas e indústrias. Na prática, a agenda exige que grandes organizações se responsabilizem e se preocupem com o impacto que deixam no meio ambiente, na sociedade e na qualidade de vida de seus funcionários.

Embora tenha ganhado força nos últimos anos, o termo ESG foi usado pela primeira vez em 2004 no relatório Who Cares Wins, “Ganha quem se importa”, em português. O documento estabeleceu diretrizes socioambientais e administrativas que deveriam ser seguidas pelo mercado financeiro, reunindo 20 instituições financeiras de nove países – incluindo o Brasil.

Fator ambiental

O fator “E” da sigla ESG diz respeito às boas práticas de proteção, conservação e restauração do meio ambiente. Este aspecto está no centro da preocupação de investidores e empresas do setor do agronegócio, uma vez que o aquecimento global, provocado pela emissão de gases de efeito estufa, vem causando alterações climáticas e, se não for combatido, pode causar fatores climáticos extremos, prejudicando a produção em diferentes áreas do país.

O 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostrou, por exemplo, que no ritmo atual de atividades produtivas que agridem o meio ambiente, a temperatura média do planeta subirá 1,5ºC ainda na próxima década, 10 anos antes do que era previsto. Isso pode provocar aumento de chuvas no Sul e Sudeste e o efeito contrário – maiores secas – no Centro-Oeste, Nordeste e Leste da Amazônia. Para o fim do século, é estimado que as temperaturas médias dos estados ao norte da Região Sudeste podem subir entre 3ºC e 4ºC, o que tornaria inviável a produção de commodities nesses locais.

Dados que preocupam, principalmente quando considerado que em 2020 a emissão dos gases de efeito estufa, sobretudo de CO2, chegou a 34 bilhões de toneladas e os níveis de desmatamento voltaram a subir e bater recordes.

O último relatório global de riscos, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, aponta que mesmo com a ameaça de doenças infecciosas que ganhou destaque com a pandemia de covid-19, cinco dos dez maiores riscos listados para o ano de 2022, e para a próxima década, estão relacionados à questões ambientais, como o insucesso em reverter mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, eventos climáticos extremos, crises de desabastecimento de recursos naturais e prejuízos ambientais causados pela ação humana.

O relatório é feito em parceria entre a seguradora suíça Zurich Insurance Group, a corretora de seguros norte-americana Marsh Mclennan e as universidades de Oxford, de Cingapura e da Pensilvânia.

A sustentabilidade ambiental, portanto, precisa estar no centro das atenções do mundo corporativo, levando grandes companhias a pensar soluções que reduzam a emissão de gases, combatam o desmatamento, repense o descarte de resíduos sólidos e estimulem o uso de energias renováveis.

Segurança Alimentar

Sendo um dos principais produtores de alimentos do mundo, é constante a pressão mundial por ações que garantam a sustentabilidade da agropecuária brasileira. Em 2020 o país já era responsável por mais de 56% da exportação de soja e 78% de suco de laranja, por exemplo. Lideramos, ainda, a exportação de carne bovina (23%) e de frango (34%). A projeção da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é que a produção de alimentos brasileira deve aumentar 41% na próxima década. O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), estima um acréscimo de 6,6 milhões de toneladas na produção de carnes e 71,6 milhões de toneladas de grãos.

Para além dos riscos impostos pelo clima, o protagonismo do país na produção de alimentos em escala mundial também acende o alerta quanto a questões como qualidade e controle da cadeia produtiva para garantir maior segurança alimentar. Com a pandemia de Covid-19 tornou-se ainda mais clara a preocupação com a manipulação de alimentos e a ameaça à saúde, diante da possibilidade do surgimento de novas doenças.

Os dois lados da moeda: consumidores e investidores

É por todos esses fatores que “se o negócio não é ESG, não é sustentável e acaba entre cinco a dez anos”, cravou Henrique Martins,  presidente da Brookfield no Brasil, em entrevista à Folha de São Paulo. A empresa tem cerca de R$3,1 trilhões investidos no mundo e é taxativa quanto à adoção de critérios ambientais, sociais e de governança na hora de escolher projetos que recebem os investimentos.

No Brasil, a empresa tem R$120 bilhões em ativos sob gestão e, até 2023, tem contratados mais de R$30 bilhões em projetos como geração de energia renovável, transmissão de energia, transporte de gás e saneamento.

E é fato que cada vez mais investidores priorizam empresas com ações efetivas relacionadas à agenda ESG. A Bloomerang estima, inclusive, que até 2025 o ESG deve atrair US$53 trilhões em investimentos em todo mundo. Só no BNDES, um dos principais fundos de acesso à crédito, existem sete programas de investimento voltados à sustentabilidade ambiental.Um estudo da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura revelou, ainda, que o tema já pesa na decisão de investimentos do próprio setor da Agroindústria. O estudo considerou 60 organizações e quase 90% dos entrevistados relataram que já utilizam dados sobre desmatamento para tomar decisões em seus negócios.

“Esse resultado mostra que o desmatamento deixou de ser apenas um ponto de atenção para se tornar um balizador de decisões de negócio dentro de uma importante fatia do setor agroindustrial e florestal no Brasil”, explicou Paula Bernasconi, coordenadora de incentivos econômicos para conservação no ICV (Instituto Centro de Vida) e líder de pesquisas na Coalizão Brasil, em entrevista à Forbes.

Os dados sobre desmatamento são consultados principalmente para implantação de novas operações (64%), monitoramento de fornecedores (36%) e monitoramento de áreas produtivas (25%). Os entrevistados relataram usar os dados para estimar, ainda, a emissão de gases de efeito estufa, analisar riscos e construir narrativas.

Mas, o mercado também está cada vez mais exigente quanto à adequação da agroindústria à agenda ESG. Um estudo do Institute for Business Value (IBV) mostrou que 84% dos consumidores consideram a sustentabilidade ambiental como algo “moderadamente importante”. Em comparação a dois anos atrás, 22% mais consumidores afirmam que o tema  é “muito” ou “extremamente importante”.Olhando para “dentro de casa”, outro levantamento feito pela Union + Webster, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná, em 2019, apontou que 87% da população brasileira já preferia comprar produtos e serviços de empresas sustentáveis, e 70% não se importavam em pagar mais por isso.

Agricultura e agroindústria 4.0

Ciente da importância do setor e de contribuir para uma produção mais sustentável, o agronegócio tem buscado saídas para reverter o quadro dee grandes impactos no meio-ambiente. O setor tem apostado na tecnologia para alcançar maior produtividade e mais sustentabilidade.

Uma pesquisa conduzida pela Fundação Dom Cabral, em parceria com a Universidad Autonoma de Chile apontou que após a pandemia de Covid-19 o setor agro registrou um aumento de iniciativas de sustentabilidade, com foco nas práticas de sustentabilidade ambiental e uma queda no desperdício. Houve, ainda, a redução dos resíduos sólidos e do uso de materiais tóxicos e perigosos, além da diminuição do consumo de energia.

E a transformação digital promete avançar mais. Para além de da automação da produção, com irrigadores e colheitadeiras automatizados por exemplo, tecnologias que possibilitam a coleta de dados climáticos, pluviométricos, de qualidade do solo e média de produtividade em cada plantio, por exemplo, identificam pontos de melhoria para otimizar resultados e ter mais assertividade nas decisões de quem planta, colhe, processa e distribui.

É por meio da tecnologia, ainda, que produtores rurais e agroindústrias conseguem reduzir desperdícios de recursos naturais como água e energia e prestar um melhor cuidado com o solo para reduzir perdas produtivas. Neste ponto, uma das modalidades adotadas é a chamada “agricultura de precisão”, que possibilita ao produtor ter um controle maior da área cultivada utilizando GPS para saber onde e quando aplicar insumos agrícolas, por exemplo.

Há também rações e probióticos que fortalecem os organismos dos animais; robôs agrícolas que evitam desperdícios; mapeamento da colheita; uso de drones para mapear pragas e pontos de melhoria na produção e práticas que usam IoT, machine learning e Big Data, como sensores que mensuram a umidade e temperatura do solo.

Timenow pode gerenciar projetos de adequação

Entender o significado de ESG e apostar em ações estratégicas pode beneficiar toda a cadeia de produção do agronegócio. Significa, além de beneficiar o planeta, maior acesso a créditos e financiamentos, redução de custos, mitigação de riscos de prejuízos legais e financeiros e uma construção de imagem mais positiva que gera valor para o negócio.

É por isso que muitas indústrias do setor agro buscam aprimorar a gestão de resíduos, a otimização do uso de água, e energia de suas operações e a redução da pegada  de carbono, objetivos que vêm impulsionando a implantação de projetos de adequação ou de melhorias da produção, em infraestrutura, logística e tecnologia.Uma consultoria ESG pode levar a sua indústria a um portfólio extenso de projetos de adequação ou melhorias da produção. Contratar uma gerenciadora pode te auxiliar a garantir a aderência desses projetos, com controle de prazos e custos, mitigação de riscos e maior segurança.

A Timenow está há 25 anos no mercado de gestão de projetos industriais, com mais de 5 mil projetos gerenciados. Atuamos no planejamento, gerenciamento e fiscalização de projetos de implantação, expansão ou adequação da produção, garantindo resultados mais assertivos.

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Fontes
https://agenciafiep.com.br/2019/02/28/consumidores-preferem-empresas-sustentaveis/
https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/
https://www.coalizaobr.com.br/home/index.php/notas-extras/917-coalizao-brasil-defende-aumento-da-meta-climatica-brasileira
https://static.poder360.com.br/2022/01/Global_Risks_Report2022.pdf
https://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2021/05/esg-deve-atrair-us-53-tri-em-investimentos-em-2025-estima-bloomberg.shtml
https://www.ibm.com/thought-leadership/institute-business-value/report/sustainability-consumer-products-retail
https://www.bloomberglinea.com.br/2021/07/28/investidores-aumentam-pressao-por-praticas-esg-no-agronegocio/
https://forbes.com.br/forbesesg/2021/05/quase-90-das-agroindustrias-usam-dados-sobre-desmatamento-para-tomar-decisoes/
https://essd.copernicus.org/articles/12/3269/2020/
https://www.cnabrasil.org.br/assets/arquivos/boletins/dtec.pib_set_2021-nov2021.10dez2021_vf.pdf
https://agrotools.com.br/blog/esg-sustentabilidade/o-que-e-esg-e-como-ele-impacta-a-agroindustria-e-o-setor-rural/

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